Apresentação da proposta

A enfermidade psíquica é uma perturbação da liberdade comportamental, uma desapropriação ou desrealização pessoal, na qual a pessoa se aliena do que lhe é próprio, convertendo- o em estranho.
O que adoece não é um organismo e sim um sistema vivo, comportamental , um nicho ecológico de condutas e de intercâmbios energéticos  e informacionais.
Atualmente , em nossa sociedade, nos deparamos com uma postura empirista de classificação dos sintomas, signos decodificados e classificados.
Em nossa compreensão é necessário uma análise mais contextualizada e processual, o entendimento da cosmovisão da pessoa adoecida e das suas apreensões.
A enfermidade é um aspecto do todo vivente que é uma individualidade.
Os pacientes que se declaram enfermos (ou são declarados como tais pelo seu entorno) sofrem de alguma incapacidade para continuar realizando a sua vida habitual ou não são capazes de empreender novas ações que são imprescindíveis na realização da sua vida.
O sofrimento que padecem reside em sua dificuldade de viver de acordo com as suas pretensões
de vida.


No caso psicopatológico é necessário distinguir entre enfermidade e estado de enfermidade. 
Numa síndrome, o sujeito corrobora os comportamentos que configuram o seu sofrimento.
Estamos falando de condutas, onde a pessoa apresenta o sintoma como uma necessidade para alcançar algo imprescindível, no caso das adicções ou filias ou experimenta o sentimento de ser alcançado por algo ameaçador: fobias.
Nesta perda gradativa da unidade coerente de sua vida há também a perda do sentido da existência.
A Literatura tem esta bondade de representar uma história vivencial, os personagens são amalgamados em contextos complexos e  seu vocabulário sentimental surge à partir de
sofrimentos vividos.
É fundamental perceber que muitas vezes o sofrer não encontra palavras para a sua expressão, os escritores são os mestres nesta habilidade de revelar página a página, as sutilezas de uma alma e das múltiplas geografias sentimentais de um único acontecimento.
Ler atentamente é simultaneamente aprender estes meandros psíquicos, sua riqueza e diversidade, bem como encontrar novas possibilidades das palavras, ou seja,  novas janelas de entendimento da dor humana.

" Todos os romances de todos os tempo se voltam para o enigma do eu "
Milan Kundera

Podcast : Se você quiser ouvir o áudio desta apresentação
https://anchor.fm/psicopatologia


Referência da imagem : Obra de Edvard Munch - Melancolia

Dica de leitura : O mal e o sofrimento de Lavelle, Louis
Tradução de Malimpensa, Lara Christina de
Editora É Realizações

Comentários

Postagens mais visitadas