O diário de um louco



O autor constrói um funcionário público, Axanti Ivanovich, sua existência pobre e solitária se mostra no pequeno quarto em que vive, sua falta de importância no emprego é pateticamente simbolizada pela função que ocupa: funcionário de apontar lápis de escrever. 
Ele se encanta com a filha do Diretor, Sophie e é repreendido por seu chefe :

"Pense bem. Você já passou dos quarenta; é hora de ser razoável. Está pensando o quê ? Acha que não conheço todos os seus truques ? Você está tentando cortejar a filha do Diretor ? Olhe para si mesmo e veja o que você é ! Um insignificante, nada mais. Eu não daria um tostão por você. Se olhe no espelho. Como você pode ter uma idéia dessas com um rosto de caricatura desses ? 

.Para escapar da pequenez de sua vida, ele cria para si um mundo de fantasias, no qual escuta conversas entre a cadela de sua amada e outra que passa na rua e pensa:

"Mas que cadela  extraordinária ! Eu fiquei boquiaberto ao ouvir ela falar na linguagem humana. Mas após considerar melhor o fato, deixei de estar impressionado. Na verdade , essas coisas já ocorreram pelo mundo. Diz-se que na Inglaterra um peixe colocou a cabeça fora da água e disse uma palavra ou duas em uma linguagem tão extraordinária que homens estudados estão quebrando a cabeça há três anos e ainda não conseguiram interpretá-las. "

Movido por esta oportunidade ele resolve conversar com Meggy para ter mais informações de sua dona :
"a cadela astuta agitou sua cauda no ar e andou em silêncio até a porta, como se não me tivesse ouvido" 

Mas ele descobre que ela compartilha cartas com sua amiga canina Fidel e depois de percorrer páginas e páginas de comentários banais , tais como :
"Eu bebo chá e tomo café com creme. Sim, minha querida , eu devo confessar que não vejo graça naqueles ossos grandes, meio roídos que o Polkan devora na cozinha. Apenas os ossos de faisão selvagens são bons, e apenas quando o tutano ainda não lhes foi sugado..."
Até que lê os comentários a seu respeito e fica indignado :
"Ele tem um nome esquisito. Ele sempre se senta ali e aponta os lápis. 
O cabelo dele parece um fardo de feno..."
"Sophie nunca consegue segurar a risada quando o vê "

Ele descobre que Sophie vai se casar com o Comissário e fica furioso e aos poucos vemos as mudanças relativas as datas do diário. Primeiro aparece o dia 43 de abril, depois o dia 86 acompanhado da invenção de um mês composto o Marcembro.
O delírio consiste num mecanismo de defesa contra o sofrimento provocado por situações reais intoleráveis. A "fuga" no sentido de insensatez e destruição representam, deste modo, uma alternativa mais aprazível. Identicamente, a loucura da personagem de Gógol pode ser vista como uma fuga desesperada ao seu quotidiano miseravelmente vazio, sendo a única forma encontrada
 para continuar "vivo"
Nesta segunda parte da história, Axanti se abandona aos seus delírios de grandeza, o pode ser
 inferido a partir da passagem 
O dia de hoje é particularmente solene. A Espanha já tem rei. Ele foi encontrado, afinal. 
Esse rei sou eu. Somente hoje é que o soube"
 na qual o personagem acredita ser o rei de Espanha, colocando-se numa posição de superioridade e revolta contra o desajuste dos comportamentos que as pessoas que o rodeiam demonstram perante um rei.
Num dia que declara sem data sai para uma caminhada anônima, pois como declara
"Eu senti que ser reconhecido por todos estaria abaixo da minha dignidade, já que primeiro eu devo ser apresentado à Corte "

 Ele é internado em um manicômio. 
Metáfora sobre a alienação, o texto mergulha profundamente nas causas sociais da loucura mostrando que, na cisão entre realidade e desejo, entre o mundo que se oferece para ser vivido e o mundo a que não se tem acesso, cria-se um abismo que cinde a personalidade.
Entende que o sanatório é a Espanha e se espanta com as diferenças de costume :
"Eu nunca poderei entender que tipo de país essa Espanha realmente é. Os costumes populares e as regras de etiqueta da Corte são extraordinários. Eu não entendo em nada, em nada. Hoje a minha cabeça foi raspada, mesmo eu gritando mais alto que pude que eu não queria ser um monge."


O texto apresenta as formas degradantes do tratamento com água gelada, violência e indiferença.
E no registro de 34 de março. Fevereiro 349 escutamos :
"Não, eu já não tenho forças para aguentar. Oh, Deus ! 
O que eles estão fazendo comigo "

O processo de enlouquecimento parece assim agravar a uma velocidade cada vez maior, à medida que o narrador é sujeito, diariamente, a tratamentos inadequados para controlar a sua loucura, levando-o a desejar a própria morte de forma a terminar com o sofrimento.

Escute o podcast deste episódio no link abaixo :






Comentários

Postagens mais visitadas