O encontro com o silêncio na ficção de Henry James

Todo romance é um estado de espírito e nos textos de Henry James encontramos sutilezas inimagináveis neste diálogo interior afetivo.
Escrever romances, é possível, segundo James, a partir da experiência. 
E como esta é a própria atmosfera da mente, não existiria atividade mais pessoal, para ele, do que
 a ficção.

"A experiência nunca é limitada e nunca é completa; ela é uma imensa sensibilidade, uma espécie de vasta teia de aranha, da mais fina seda, suspensa no quarto de nossa consciência, apanhando qualquer partícula de ar em seu tecido. 
É a própria atmosfera da mente; e quando a mente é imaginativa - muito mais quando acontece de ela ser a mente de um gênio - ela leva para si mesma os mais tênues vestígios de vida, ela converte as próprias pulsações do ar em revelações "


Há na proposta de Henry James, a ideia de que enquanto existir vida, sofreremos impressões: 
"à medida que a vida retém esse poder de se projetar sobre sua imaginação, o leitor verá que o romance produz a impressão melhor do que qualquer outra coisa que ele conheça. 
Algo melhor para atingir esse propósito, seguramente, ainda está por ser descoberto. 
Ele só vai abandoná-lo quando a própria vida discordar dele. Mesmo assim não poderá a ficção encontrar uma segunda asa, ou uma quinquagésima asa, no próprio retrato desse colapso? 
Até o mundo se tornar um vácuo despovoado, haverá uma imagem no espelho. 
O que mais deve nos preocupar imediatamente, portanto, é cuidar para que a imagem continue variada e vívida" 

Em muitos momentos vivemos situações em que nos faltam as palavras para explicar, sabemos interiormente mas não conseguimos dizer. Os romances de Henry James parecem buscar este não dito, o desenho na teia imaginativa desta imagem que perdura na sensibilidade do escritor, adivinhando o não-visto do visto, e produzindo uma nova realidade extraída
 dessa imagem do real.
Na sua técnica romanesca, o objeto ou matéria essencial da arte é a vida, ou melhor, como alguém apreende  a experiência da vida, no seu valor moral. Tal valor moral só pode ser apreendido e representado através de uma inteligência lúcida e de personagens centrais adequadamente selecionados, capazes de superarem a desordenada danação e vazio da vida.
 James procurou desenvolver processos cada vez mais convincentes de representar a vida mental e o fluxo da consciência.
O que intriga é a forma como expressa este drama interior : o silêncio. 
Na escrita de Henry James somos convidados a participar de um fluxo de pensamentos que nos alerta para os espaços em branco, entre uma palavra e outra,  entre uma linha e a outra. 
O branco da página ganha espessura, o silêncio entre as palavras ganha relevo e relevância.
O silêncio está vinculado a uma intimidade possível para todos, a uma comunicação sem códigos :

“Estava claro que a associação deles ultrapassara o estágio em que a manifestação de um interesse, de um lado e de outro, exigia uma prova verbal. Quase nada lhes era necessário, nem sequer se buscarem com os olhos: ela não tinha necessidade de olhar seu amigo para acompanhar o que ele dizia — podia olhar os espaços longínquos que ele mesmo contemplava, e era ao acompanhá-lo até lá que ela o compreendia.” 
trecho do livro O protesto de 1911

No silêncio é possível encontrar significações intensas de cumplicidade e de compreensão. 
Podemos dizer que a comunicação das emoções, portanto, pode explorar o silêncio com muita propriedade. É esta arte de escutar entre os silêncios que Henry James, um mestre, 
 pode nos ensinar.


Veja o podcast deste episódio , no link :
https://anchor.fm/psicopatologia

Dica de leitura :













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