A leitura, o grande amor de Virginia Woolf


A escritora Virginia Woolf era uma leitora dedicada e em seus ensaios encontramos uma poética 
da arte de ler, um hábito cultivado desde à infância.
"Os livros que lemos na infância, depois de surripiá-los de uma prateleira supostamente inacessível, guardam algo da irrealidade e da reverência com que furtamos a luz da aurora nascendo nos campos silenciosos, enquanto o resto da casa dorme. Espiando pelas cortinas mal reconhecemos as formas estranhas das árvores veladas pela névoa, mesmo que as relembremos pelo resto da vida pois as crianças têm uma estranha premonição do que está por vir "

Filha de um editor, Leslie Stephen, a menina Virgínia viveu cercada de livros e mergulhada num rico universo literário. Fundou seguindo esta tradição, uma editora em 1917 com seu marido, 
a Hogarth Press.
Existem muitas formas de falar da escritora, escolhi aqui a sua paixão pela leitura e sua partilha sobre esta experiência, do cultivo de um diálogo constante com a literatura.
Em seu ensaio : Como ler um livro ? ela diz : 

"Na verdade, o único conselho sobre leitura que alguém pode dar a outra pessoa é não aceitar conselhos, seguir seus instintos, usar sua razão para chegar as sua próprias conclusões."

Ela segue o ensaio compartilhando o modo como se aproxima, dos autores e a necessidade de abrirmos nossa alma para que este encontro, possa realmente acontecer: 

"Não dê ordens a seu autor; tente converter-se nele. Seja seu cúmplice e companheiro de trabalho. Se de início você mantém distância faz ressalvas e críticas, está-se impedindo de obter o valor mais pleno possível daquilo que lê. Mas , se abrir a mente ao máximo, sinais e sugestões de finura quase imperceptível, desde o torneio das primeiras frases, vão levá-lo à presença de um outro ser humano diferente de qualquer outro. Embeba-se nisso, familiarize -se com isso e logo descobrirá que seu autor lhe está dando, ou tentando lhe dar, algo muito mais definido"

E ela continua, explicando :

"O primeiro processo - receber impressões com o máximo entendimento - é apenas metade do processo de leitura  precisa ser complementado por outro para obtermos todo o prazer de um livro. Podemos avaliar essas inúmeras impressões,  precisamos converter essas formas fugidias numa que seja firme e duradoura. Mas não diretamente. Antes espere a poeira da leitura se assentar, o conflito e o questionamento cessarem; ande, fale, arranque as pétalas fanadas de uma rosa, durma. Então, de repente, sem intervenção de nossa vontade, pois é assim que a Natureza realiza essas transições, o livro voltará, mas diferente. Subirá como um todo ao alto da mente. E o livro como um todo é diferente do livro recebido geralmente em frases separadas. Os detalhes agora se encaixam em seus lugares. Vemos a forma do começo ao fim, é um celeiro, um chiqueiro ou uma catedral "

É lindo escutar esta fórmula alquímica de leitura, com as paradas de decantação e condensação das palavras na alma do leitor. Virgínia não faz uma diferença na qualidade dos livros e sim, busca uma qualidade da leitura, um processo amoroso de convivência com os livros.

Chega mesmo a recomendar o prazer dos livros ruins:

"devemos muito aos livros ruins, de fato, seus autores e seus protagonistas vêm a se incluir entre aquelas figuras que desempenham um enorme papel em nossa vida silenciosa "

O fundamental é ler sempre :

"Pois o verdadeiro leitor é jovem, por essência. É um indivíduo de grande curiosidade, cheio de idéias, expansivo e de espírito aberto, para quem a leitura se afigura mais um vigoroso exercício ao ar livre do que um estudo em local protegido, galga a estrada íngreme, sobe as alturas sempre maiores das montanhas, até que a atmosfera se faça tão rarefeita que se torna quase irrespirável; para ele, não é de maneira nenhuma uma atividade sedentária"

uma atividade que não requer recompensas e que se justifica por si : 

"Sonhei pelo menos algumas vezes que, no dia em que chegar o Juízo Final e os grandes conquistadores, juristas e estadista forem receber as sua recompensas - coroas, lauréis, nomes gravados indelevelmente no mármore imperecível -, o Todo-Poderoso há de se virar para Pedro e dirá, não sem uma ponta de inveja aos nos ver chegando com nossos livros debaixo do braço : 
"Veja, estes não precisam de recompensa. 
Aqui não temos nada para lhes dar. 
Gostavam de ler ."


Escute este podcast no link abaixo :


Trechos retirados do livro abaixo :


Saiba mais sobre a escritora :


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